Poucos meses antes de ser eleito Papa, Dom Robert Francis Prevost — hoje Leão XIV — concedeu uma entrevista reveladora ao jornalista Andrea Tornielli. Publicada no livro Leão XIV: “Que a paz esteja com todos!” (ed. Mame), a conversa, realizada em maio de 2023, mostra um retrato quase profético do perfil pastoral que ele próprio viria a encarnar como líder da Igreja.

Na época, Prevost havia sido recentemente nomeado prefeito do Dicastério para os Bispos. Sem saber o que o futuro lhe reservava, descreveu com profundidade a essência do que acreditava ser um bispo ideal: católico no sentido pleno da palavra, próximo do povo, testemunha viva da fé e defensor da unidade e da comunhão.

Um bispo verdadeiramente “católico”

Para Leão XIV, o bispo deve transcender os limites locais e abraçar a universalidade da Igreja. “Às vezes, há o risco de o bispo se concentrar apenas na realidade local, mas ele precisa ter uma visão mais ampla e sentir a universalidade da Igreja”, afirmou. E completou: “Deve saber escutar, pedir conselhos e demonstrar maturidade psicológica e espiritual”.

A figura do pastor

A palavra “pastor” assume, para ele, um significado profundo. Não se trata de um administrador distante, mas de alguém que caminha junto ao rebanho, especialmente os sacerdotes. “O bispo deve ser pai e irmão dos padres. A autoridade que temos é a do serviço — estar próximo, acompanhar, formar”, declarou, sinalizando seu compromisso com uma liderança baseada no cuidado e no exemplo.

Testemunhar a fé com alegria

O então bispo também destacou a importância de ser, acima de tudo, testemunha da fé viva. “Corremos o risco de ensinar doutrinas sem comunicar o essencial: a alegria de conhecer Jesus Cristo. Nossa missão primeira é testemunhar essa proximidade com o Senhor e transmitir a beleza da fé cristã.”

A busca pela unidade

Outro ponto central de sua visão é a promoção da unidade na Igreja. Leão XIV enfatizou que o bispo é chamado a viver em espírito de comunhão, promovendo a unidade com o Papa e com os fiéis. “A falta de unidade é uma ferida dolorosa na Igreja. Cabe a nós, bispos, impulsionar esse movimento em direção à comunhão”, afirmou.

Essa preocupação acompanha Leão XIV desde sua trajetória como religioso agostiniano. Seu lema episcopal, In Illo uno unum (“Em Aquele que é Um, sejamos um”), expressa claramente sua espiritualidade centrada na comunhão e no diálogo.

Uma espiritualidade que convida à oração

O livro que traz essa entrevista também aprofunda os principais desafios espirituais que o novo Papa enfrentará durante seu pontificado, além de reunir orações da tradição cristã e de santos aos quais Leão XIV costuma se confiar. Na noite de sua eleição, ele pediu orações aos fiéis — e conhecer suas palavras e intenções é uma forma de atender a esse chamado.

Com informações de Aleteia