Acidente em frente a hospital expõe desigualdade entre quem tem plano de saúde e quem depende do SUS

A vida, por vezes, nos oferece momentos que nos fazem parar e refletir sobre as desigualdades que nos cercam — e nem sempre é preciso ir longe para enxergá-las. Na manhã desta quarta-feira, 30 de abril, do terraço do primeiro andar da minha residência na Rua Peregrino Filho, assisti a mais um pequeno acidente na já conhecida rotatória do Largo Dom Gerardo com a Floriano Peixoto. Um motociclista colidiu com um veículo e caiu ao chão, visivelmente ferido e sem conseguir se levantar de imediato.
O barulho da colisão foi o que me alertou. Ao registrar a cena, duas reflexões me atravessaram. A primeira diz respeito ao cuidado. Em poucos minutos, duas enfermeiras se aproximaram e realizaram os primeiros atendimentos, seguindo os protocolos de emergência. E, mesmo estando exatamente em frente a um hospital, o motociclista não foi levado para lá. Por quê?
Essa é a segunda reflexão. Provavelmente, o homem não possuía plano de saúde. A sequência dos fatos sugere isso: logo após o atendimento das enfermeiras, uma motoneta do SAMU chegou ao local, seguida por uma ambulância básica do serviço público de saúde. O paciente foi atendido no chão, ali mesmo, em frente ao hospital que, por algum motivo — institucional, burocrático ou simplesmente estrutural — não acolheu o ferido.
Essa cena simples, quase cotidiana, escancara um contraste gritante: o da desigualdade entre quem tem acesso a um plano de saúde e quem depende exclusivamente do SUS. Em um país onde hospitais privados muitas vezes funcionam como redutos exclusivos para quem pode pagar, o cidadão comum, sem esse privilégio, fica à mercê da espera, da burocracia e, em muitos casos, da sorte.
O Brasil precisa olhar com mais atenção para essas contradições. Afinal, saúde não deveria ser um luxo — é um direito constitucional. E quando o acesso ao cuidado depende do cartão do convênio no bolso, algo está muito errado. Quantas vidas mais vão depender da sorte ou da proximidade de uma unidade do SAMU? E até quando os hospitais privados fecharão os olhos para quem está do lado de fora do portão?
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