Curtindo a Presidência adoidado
Janja pode não ser cidadã de segunda classe, seja lá o que Lula quis dizer com isso, mas também não recebeu nenhum voto para palpitar em reunião com Xi Jinping

Se há alguém se divertindo hoje em dia em Brasília, essa pessoa se chama Rosângela Janja da Silva (à direita na foto).
Em meio a tensas disputas entre ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), deputados, senadores e ministros de Estado, e diante da queda de popularidade de um governo que parece nem ter começado, de tão insípido e desnorteado, a primeira-dama goza de todos os benefícios do poder, mas sem qualquer ônus — e sem qualquer voto.
Janja se tornou motivo de constrangimento mais uma vez para Lula (à esquerda na foto) nesta semana, ao fazer uma intervenção em reunião com o presidente chinês, Xi Jinping. O petista disse que é isso mesmo, que sua mulher pode intervir, porque “não é cidadã de segunda classe”.
A primeira-dama pode não ser uma cidadã de segunda classe, seja lá o que isso quer dizer, mas não recebeu nenhum voto para estar naquela reunião, e também não tem nenhum cargo formal, o que a blinda de prestar contas sobre aquilo que faz — ou por aquilo que gasta.
Limites
Existe uma consequência desagradável para os parentes de detentores de cargos públicos: durante o período do mandato, suas vidas também são afetadas. Quanto maior o cargo, maiores as limitações.
Isso vale para esposas, maridos ou filhos de presidentes da República, ministros dos STF, prefeitos, governadores ou parlamentares. Em última instância, a vida pública desses parentes deveria ser anulada, pelo menos no que diz respeito à função que seu familiar exerce.
No caso de uma primeira-dama, ela pode até auxiliar o marido em seus deveres, como virou praxe, mas nunca virar protagonista, a ponto de representar o governo em viagens oficiais, e nem se valer da estrutura pública para curtir a vida — e muito menos se gabar disso publicamente.
Janjômetro
Janja foi à Rússia com dias de antecedência, para passear.
Se fizesse isso com o próprio dinheiro, e sem os privilégios que teve por ser casada com o presidente do Brasil, não haveria por que reclamar. Mas a primeira-dama gasta tanto dinheiro público que levou à criação de um medidor, e o Janjômetro já bateu 117,25 milhões de reais.
Essa não foi a primeira viagem antecipada de Janja — e é difícil imaginar que será a última, porque ela simplesmente não tem motivo formal para se explicar.
O comportamento da primeira-dama, que já causou crise ao ofender Elon Musk, entre outras confusões, destoa tanto do de suas antecessoras que levou deputados a apresentarem projetos para criar um cargo para a mulher do presidente da República — e a Advocacia Geral da União (AGU) prometeu um parecer para delimitar sua atuação.
Quem vazou?
E não são apenas os opositores do governo que está incomodados, como expôs Lula na entrevista coletiva em que saiu em defesa de sua mulher.
“Eu até fico perguntando, que eu vi na matéria, que um ministro estava incomodado, ficou incomodado. Se o ministro estivesse incomodado, deveria ter me procurado e pedido para sair. Eu autorizaria ele [a] sair da sala“, comentou o petista.
Havia nove ministros na comitiva presidencial à China, entre eles Mauro Vieira, das Relações Exteriores, Alexandre Silveira, de Minas e Energia, Simone Tebet, do Planejamento e Orçamento, e Carlos Fávaro, da Agricultura.
Qual deles não teria motivo para se incomodar com a intervenção de Janja na reunião com Xi Jinping?
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