O Terreiro do Forró, principal palco do São João de Patos (PB), tornou-se o centro de um escândalo político e estrutural após virar um lamaçal durante o segundo dia de festa, em decorrência de chuvas na região. A obra, que custaria R$ 17 milhões em emendas federais, foi viabilizada com apoio direto do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), filho do atual prefeito da cidade, Nabor Wanderley (Republicanos).

Segundo reportagem do Estadão, as emendas foram articuladas por Motta na Comissão de Turismo da Câmara e o contrato com a prefeitura foi assinado em dezembro de 2024, dois meses antes de sua eleição à presidência da Casa. A ampliação do Terreiro, segundo divulgado nas redes sociais do próprio prefeito, aumentaria o espaço de 12 mil para 25 mil metros quadrados.

Contudo, parte da área usada para a ampliação foi desapropriada judicialmente e está localizada em zona suscetível a alagamentos, segundo perícia anexada a um processo no STJ. Após as chuvas, o novo espaço ficou coberto de lama, e a prefeitura precisou improvisar uma cobertura de pó de brita para manter a programação da festa.

Obras iniciadas sem liberação oficial de recursos

Apesar da assinatura do convênio entre a prefeitura e o Ministério do Turismo, nenhum centavo dos R$ 17 milhões havia sido efetivamente liberado até a última atualização, de acordo com nota oficial do próprio ministério. A Caixa Econômica Federal afirmou que ainda aguardava documentos técnicos da gestão municipal para autorizar o início da licitação. Mesmo assim, a obra já havia sido iniciada e amplamente divulgada.

A própria Prefeitura de Patos e Hugo Motta não responderam aos questionamentos feitos pelo Estadão. Em declarações públicas, o prefeito creditou ao filho o êxito do projeto. “Hugo Motta ajudou muito, conseguimos empenhar os recursos para essa obra, que vai transformar a cidade”, afirmou Nabor.

Envolvimento de investigados e críticas da oposição

A crise se intensificou após o secretário municipal de Infraestrutura, José do Bomfim Araújo Júnior, ser denunciado pelo MPF por participação em esquema de desvio de recursos públicos envolvendo outra obra, de restauração de avenidas, com prejuízo estimado de R$ 949 mil aos cofres públicos. Também foram denunciados engenheiros, empresários e técnicos ligados à prefeitura.

O vereador Josmá Oliveira (MDB), opositor local, classificou a reforma do Terreiro como “obra improvisada e sem estrutura” e anunciou que acionará o Ministério Público Federal para apurar a aplicação das emendas federais no evento. “Esperávamos algo com drenagem, com piso. O que vimos foi barro e improviso. Não se justifica esse valor todo”, declarou.

Repercussão nas redes e participação de Motta

O episódio ganhou ainda mais visibilidade depois que Hugo Motta apareceu em um vídeo viral participando de uma “competição de goles de uísque” com um influenciador durante a festa, gerando críticas até mesmo entre aliados.

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Apesar da polêmica, o São João de Patos, realizado entre os dias 19 e 23 de junho, foi mantido com shows de grandes nomes da música nacional como Bruno & Marrone, Wesley Safadão, Jorge & Mateus e Nattan, e contou com patrocínio de empresas como Caixa, Banco do Nordeste, Coca-Cola, PicPay e Brahma, entre outras.

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Matéria original publicada no Estadão em 26 de junho de 2025. Autores: Weslley Galzo e Levy Teles. Link: www.estadao.com.br