Oposição acusa Lula de fabricar inimigo externo

Parlamentares da oposição e do centro atribuíram à estratégia ideológica e à política externa “desastrosa” do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de estabelecer uma tarifa de 50% para produtos importados do Brasil para os Estados Unidos. Segundo parlamentares ouvidos pela reportagem, Lula deve agora classificar Trump como um inimigo externo para tentar recuperar sua popularidade e tirar o foco de problemas econômicos do Brasil.
O presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, deputado Filipe Barros (PL-PR), afirmou que a taxação imposta por Trump é uma resposta direta ao governo Lula. “Não tenho a menor dúvida de que o Lula quer que o nosso país seja taxado, justamente para arranjar um culpado externo pelo seu próprio desastre econômico. No melhor estilo venezuelano, tenta justificar o fracasso da economia colocando a culpa no ‘imperialismo americano’”, disse à Gazeta do Povo.
Para Barros, a escalada na tensão entre os dois países tem motivação política. “Lula sabe que o Brasil vai mal das pernas. Entregou os ministérios para aliados políticos, inchou a máquina e agora precisa apontar culpados. Antes era o Campos Neto. Agora, Trump.”
Já o deputado Gilson Marques (Novo-SC) classificou como “excesso de autoestima” a forma como Lula e o Itamaraty vêm lidando com o ex-presidente americano. “É como se estivéssemos com prego, martelo e canivete enfrentando drones, inteligência artificial e as maiores empresas do mundo. Lula deveria, no mínimo, ficar quieto. Em briga de elefante, quem sofre é a grama – e a grama é o povo”, disse.
O parlamentar ainda ironizou: “Não se trata de bater continência para americano, mas de reconhecer que somos economicamente mais fracos e dependentes. Lula vai continuar comprando gravata de grife, mas quem vai pagar a conta é o povo.”
A fala recente da primeira-dama, Janja da Silva, que chamou americanos de “vira-latas”, também foi alvo de críticas. Para Gilson, “felizmente ninguém a leva a sério, mas infelizmente levam Lula”.
O deputado Alfredo Gaspar (União-AL) foi ainda mais duro nas críticas ao governo Lula por sua política externa. “Lula virou o mordomo da China. Está conduzindo a política externa para o lado errado da história. Isso terá impacto direto na política comercial e na vida do povo. Já não temos plano de governo e agora ainda arrumamos briga com os americanos.”
Gaspar aponta que a deterioração da relação com os EUA, somada à falta de propostas concretas do governo, empurra brasileiros para fora do país.
“Milhares buscam migrar porque o Brasil não oferece perspectivas. Vivemos de narrativas ideológicas e divisões internas enquanto o crime organizado avança.”, reforçou.
Na mesma linha, o deputado federal Messias Donato (Republicanos-ES), criticou o uso político do confronto com os EUA. “O governo Lula tem recorrido a velhas estratégias da esquerda: quando a incompetência interna fica evidente, eles inventam um inimigo externo para desviar a atenção da população”, declarou.
De acordo com Donato, Lula afasta parceiros históricos, como EUA e Israel, ao adotar alinhamentos ideológicos com regimes autoritários como Irã e Rússia. “Isso afasta investimentos, prejudica nossa segurança e mancha a imagem do Brasil. O mundo quer previsibilidade e democracia – não um governo que se alia a ditadura e vira as costas para seus amigos aliados”, disse.
Diante da taxação, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente nacional do PP, atribuiu ao presidente Lula o que classificou como isolamento do Brasil no cenário internacional e o acusou ainda de romper, pela primeira vez na história, a aliança estratégica com os Estados Unidos. Segundo Nogueira, a atual diplomacia brasileira estaria “colocando a ideologia acima dos interesses do povo” e se aproximando de regimes autoritários na América Latina.
“O senhor, presidente Lula, não perdeu uma oportunidade para atacar com palavras o presidente da maior economia do planeta. E, ao invés de diplomacia, preferiu apostar em ataques infantis contra um país muito mais poderoso e mais forte do que o Brasil”, escreveu em publicação nas redes sociais.
Ao tratar do assunto, o senador também preparou o terreno para a disputa eleitoral de 2026. “O povo brasileiro vai corrigir, se Deus quiser, essa sequência de barbaridades de sua política externa que cada vez mais se aproxima de ditadores e ditaduras e conseguiu a proeza de destruir a relação mais antiga do Brasil nas Américas, o primeiro país a reconhecer a nossa independência”, completou Nogueira que presidente do Progressistas.
O senador Eduardo Girão (Novo-CE) afirmou que o “consórcio” entre Lula e o STF gerou um “altíssimo custo”. “O Senado Federal é parte do problema por ter se omitido até aqui, mas pode se tornar a solução da crise pautando impeachment dos que desrespeitam a nossa Constituição!”, escreveu na rede social X.
Tensão com EUA aumentou durante cúpula do Brics no Rio
A tensão havia aumentado no fim de semana, quando após Trump criticou o tom antiamericano adotado na Declaração do Rio de Janeiro na cúpula de líderes dos Brics (bloco diplomático formado inicialmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). O presidente americano criticou a perseguição contra o ex-presidente Jair Bolsonaro no Brasil.
A resposta do Itamaraty veio por meio da convocação do encarregado de negócios dos EUA no Brasil, que foi vista como mais um ataque Washington. A resposta americana com o anúncio da taxação, muito mais elevada que os 10% anunciados para o Brasil anteriormente, veio horas depois.
Para a oposição, o Brasil está pagando o preço de uma política externa ideologizada e distante dos interesses nacionais. O receio é que o governo Lula esteja deliberadamente buscando um confronto para justificar seus próprios fracassos.
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