O recado velado de Trump a Lula que coloca o Brasil sob risco na ONU

A menos de uma semana da abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, parte da comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não recebeu autorização para entrar nos Estados Unidos. Dois ministros de Estado seguem sem visto, segundo o Itamaraty, o que ameaça criar um constrangimento inédito para o Brasil, país responsável tradicionalmente por abrir os discursos do evento. O assunto foi tema do programa Mercado, de VEJA, conduzido por Diego Gimenes, em entrevista com o professor de Relações Internacionais Márcio Sette Fortes. Para ele, a demora não deve ser tratada apenas como burocracia. “A demora nos vistos é um recado dos EUA a Lula”, afirmou, destacando que a questão ocorre em um contexto de atrito diplomático e comercial entre os dois países.
Embora a maioria da delegação já tenha obtido os documentos necessários, o atraso na liberação de parte dos vistos chama a atenção por sua proximidade do evento. O imbróglio envolve o “acordo sede” firmado entre Washington e a ONU, que prevê facilidades para a entrada de autoridades estrangeiras em território americano. Fortes lembrou que já existem precedentes recentes em que os Estados Unidos restringiram a entrada de delegações, como no caso da Palestina, que teve membros de sua comitiva barrados. “Isso mostra que a emissão de vistos também pode ser usada como instrumento político”, observou.
O Brasil, no entanto, ocupa posição central na cerimônia da ONU: é o responsável por abrir os discursos, seguido imediatamente pelo presidente americano. Para Fortes, esse fator pesa contra a hipótese de um bloqueio definitivo. “Acredito que os Estados Unidos ainda possam rever a posição e agilizar os vistos, justamente para evitar um desgaste maior com o Brasil em um palco global”, disse. Mesmo que o problema seja resolvido a tempo, a demora já serviu para expor a fragilidade da relação entre Lula e o governo Donald Trump. Em um momento em que o presidente brasileiro planeja usar o púlpito da ONU para defender maior protagonismo dos países em desenvolvimento, qualquer ruído com Washington tende a reverberar no cenário internacional.
Os fatos que mexem no bolso são o destaque da análise do VEJA Mercado:
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